post de André Brandão:
A viagem a lua foi uma experiência de conquistas extraordinárias - a não ser, é claro, pela conquista da própria lua... De lá os astronautas trouxeram alguns quilos de pedras, fotos e filmes, e deixaram uma pegada, uma bandeira e muita sucata. Já não existia nada naquele satélite que o homem não conhecesse! Só que as pesquisas científicas e o domínio da tecnologia necessária ao projeto da viagem espacial inauguraram uma nova era: o destino dessa viagem foi o "futuro", a lua era só uma pequena "escala".
Será o que o mesmo não pode acontecer com a experiência da viagem no tempo? Deixando de lado todas as nossas fantasias, acredito que uma viagem como essa só se justifica se o homem puder mudar o destino da humanidade. Temos esse direito? Por exemplo: seria possível evitar a Segunda Grande Guerra Mundial? Evitar a morte de seis milhões de judeus, vinte milhões de russos, Hiroshima e Nagasaki, cinqüenta milhões de vidas no total? E como justificar essa nossa intervenção? Teríamos, por exemplo, o direito de julgar, condenar e cumprir uma sentença póstuma contra o jovem Adolf Hitler? O "Tribunal de Nuremberg" condenou onze oficiais nazistas à morte, mas nenhuma dessas condenações precedeu os crimes cometidos contra a humanidade. No caso da visita de um carrasco ao passado do futuro fürer, a condenação iria se cumprir por crimes que ele não cometeu e nem cometerá, já que essa é a decisão do próprio tribunal que o condenou. Só que já não existem crimes a serem julgados, pois o "terceiro reich" não vai existir. No que é que se sustenta, então, a "tese da promotoria"? Qual é a jurisprudência? Esse tribunal é legítimo? Podemos condenar um homem por crimes que ele não vai cometer? Se esse homem é inocente, por que levá-lo ao "banco dos réus"? Mas sem condená-lo, como evitar uma guerra que justifica sua condenação?
Outra questão: a quem é que interessa um projeto como esse? Será que aos Estados Unidos da América pode ser interessante ajudar a escrever uma nova Hístoria? Sem a segunda guerra mundial eles seriam, hoje, o que são? E sem a participação dos Estados Unidos - numa realidade como a nossa - esse projeto seria possível? Afinal: o que é que justifica uma viagem no tempo - para quem e por que?
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Fahrenheit 451: curiosidades do filme
Curiosidades - O título Fahrenheit 451 é uma referência à temperatura que os livros são queimados. Convertido para Celsius, esta temperatura equivale a 233 graus.
Vejam estas e outras curiosidades, ficha técnica, resenha e comentários do filme do diretor François Truffaut em: http://www.adorocinema.com/filmes/fahrenheit-451/fahrenheit-451.asp
abraços em chamas
Igor Capelatto
Efeito Borboleta
Efeito Borboleta por Igor Capelatto
publicado 08 julho 2005 no site Fábrica de Quadrinhos
Efeito Borboleta (de Eric Bress e J. Mackye Gruber 2004)
Nem todo mundo tem lembranças agradáveis sobre o seu passado. Algumas guardam feridas que nunca se cicatrizarão. E sofrem e sofrerão tristes conseqüências por causa desse passado. E quase todo mundo já deve ter sentido aquele desejo de voltar ao passado e corrigir seus erros. Ou evitar catástrofes, assassinatos, abusos, acidentes caseiros etc. Mas será que isto é possível? E se fosse, o que será que aconteceria?
Evan é um jovem que conseguiu tal façanha. Lendo seu diário e recordando os momentos dolorosos de seu passado ele acaba voltando ao passado, não no seu corpo atual, mas sim no seu corpo daquele momento de sua vida. Tudo que Evan quer é corrigir os problemas de sua vida e salvar seu grande amor Kayleigh. Entretanto cada vez que ele muda algo do passado o seu presente altera-se. Ele pode mudar o passado, mas jamais poderá prever as conseqüências deste novo ato.
Parece ser um filme de viajem no tempo, um simples roteiro ficcional. Entretanto, este filme é mais do que uma aventura temporal, mais do que um drama, mais do que suspense.
Ele é uma pura lição de responsabilidade (pelos nossos atos) e de como lidarmos com os fardos de nosso passado. O objetivo dos criadores da trama, Eric Bress e J. Mackye Gruber, era construir uma história que nos reverte aos problemas psicológicos da nossa mente e nos ensina como suportar o nosso passado, de forma a nos revelar que não é apagando uma ação, consertando um erro que vamos mudar nossa realidade, mas sim aprendendo a conviver com as conseqüências destes atos e tomar elas como lição de vida para evitarmos assim novos erros e então construir a vida que tanto almejamos.
Mas porque então Efeito Borboleta? Como é colocado no inicio do filme: "uma borboleta que bate asas na China pode causar um furacão na América". Esta é uma simples explicação para a Teoria do Caos - o efeito borboleta - estudo realizado por Edward Lorenz (meteorologista e matemático) - que mostra como uma simples ação (o bater de asas de uma borboleta) pode influenciar o curso natural das coisas. Usando esta teoria, Bress e Gruber nos mostram como uma pequena coisa que realizamos pode vir a mudar completamente a nossa vida. Às vezes nem precisa ser um gesto, basta uma palavra.
links: http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_borboleta (Explicação sobre a Teoria do Caos)
http://www.fabricadequadrinhos.com.br/indexo.php?conteudo=antimateria&id=3975 (página deste artigo)
publicado 08 julho 2005 no site Fábrica de Quadrinhos
Efeito Borboleta (de Eric Bress e J. Mackye Gruber 2004)
Nem todo mundo tem lembranças agradáveis sobre o seu passado. Algumas guardam feridas que nunca se cicatrizarão. E sofrem e sofrerão tristes conseqüências por causa desse passado. E quase todo mundo já deve ter sentido aquele desejo de voltar ao passado e corrigir seus erros. Ou evitar catástrofes, assassinatos, abusos, acidentes caseiros etc. Mas será que isto é possível? E se fosse, o que será que aconteceria?
Evan é um jovem que conseguiu tal façanha. Lendo seu diário e recordando os momentos dolorosos de seu passado ele acaba voltando ao passado, não no seu corpo atual, mas sim no seu corpo daquele momento de sua vida. Tudo que Evan quer é corrigir os problemas de sua vida e salvar seu grande amor Kayleigh. Entretanto cada vez que ele muda algo do passado o seu presente altera-se. Ele pode mudar o passado, mas jamais poderá prever as conseqüências deste novo ato.
Parece ser um filme de viajem no tempo, um simples roteiro ficcional. Entretanto, este filme é mais do que uma aventura temporal, mais do que um drama, mais do que suspense.
Ele é uma pura lição de responsabilidade (pelos nossos atos) e de como lidarmos com os fardos de nosso passado. O objetivo dos criadores da trama, Eric Bress e J. Mackye Gruber, era construir uma história que nos reverte aos problemas psicológicos da nossa mente e nos ensina como suportar o nosso passado, de forma a nos revelar que não é apagando uma ação, consertando um erro que vamos mudar nossa realidade, mas sim aprendendo a conviver com as conseqüências destes atos e tomar elas como lição de vida para evitarmos assim novos erros e então construir a vida que tanto almejamos.
Mas porque então Efeito Borboleta? Como é colocado no inicio do filme: "uma borboleta que bate asas na China pode causar um furacão na América". Esta é uma simples explicação para a Teoria do Caos - o efeito borboleta - estudo realizado por Edward Lorenz (meteorologista e matemático) - que mostra como uma simples ação (o bater de asas de uma borboleta) pode influenciar o curso natural das coisas. Usando esta teoria, Bress e Gruber nos mostram como uma pequena coisa que realizamos pode vir a mudar completamente a nossa vida. Às vezes nem precisa ser um gesto, basta uma palavra.
links: http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_borboleta (Explicação sobre a Teoria do Caos)
http://www.fabricadequadrinhos.com.br/indexo.php?conteudo=antimateria&id=3975 (página deste artigo)
domingo, 4 de novembro de 2007
O Homem que Comprou o Mundo
Dia 11 de agosto, às 22:40h, a TV Cultura exibiu no Cine Brasil O Homem que Comprou o Mundo (1968), primeiro longa escrito e dirigido por Eduardo Coutinho, e que pode ter alguma afinidade com a ficção científica. O filme abre com letreiro situando a ação no país “Reserva 17”. Depois de deixar sua noiva Rosinha (Marília Pêra) em casa, José Guerra (Flávio Migliaccio) presencia uma dupla de motoqueiros agredir um homem de turbante. Falando num idioma ininteligível, o hindu dá um cheque de “cem mil strikmas” a José Guerra, pouco antes de morrer. O herói tenta descontar o cheque, mas o supercomputador de um banco high-tech entra em pane ao tentar converter a quantia, que se revela astronômica. Um alarme é acionado e José Guerra recebe ordem de prisão, por motivo de segurança nacional.
O douto Professor Bagdá Pompéia (Abel Pêra), autor de uma monografia sobre as strikmas (mas que ninguém conhece, pois naquele país ninguém lê o que ele escreve), é convocado para explicar o valor dessa estranha moeda. Segundo o professor: “As strikmas são moedas cunhadas pelo faraó Ramsés II no Antigo Egito, no ano de 1219 a.C., pelo processo da laparotomia...” Aqui o professor é interrompido pelo primeiro-ministro de Reserva 17 (Raul Cortez), que lhe pergunta o valor das strikmas. Mas o acadêmico não quer saber de ir direto ao ponto e continua sua dissertação, contando que as strikmas teriam sido cunhadas com a imagem da misteriosa deusa Nefertite. “Alguns séculos mais tarde foram roubadas da pirâmide de Quéops por Xerxes II, passando sucessivamente às mãos de grandes estadistas como Gengis Khan, o gentil Calígula, Átila, o Doce, Pepino, o Breve, o Visconde de Marica...”, continua o professor Bagdá, indiferente aos apelos sobre o valor da moeda. “Durante a inquisição, as strikmas foram excomungadas pelo papa Urbano XXXVI e atiradas no fundo do Mar Cáspio. Aí as pistas se confundem. Há controvérsias. Teriam desaparecido? Teriam aparecido? Que sei eu?”, divaga o professor. Com muito custo, as autoridades conseguem finalmente extrair do intelectual a informação sobre o valor de uma strikma. As strikmas seriam de “ouro cru”, um metal tão raro que só seria encontrado nas próprias strikmas. Cada strikma valeria cem milhões de dólares e teria “o tamanho de um pneu de Fenemê”. Logo, cem mil strikmas valeriam cem trilhões de dólares.
Cientes da fortuna pertencente a José Guerra, as autoridades de Reserva 17 decidem superprotegê-lo, isolando-o numa fortaleza. Afinal, como cidadão, José Guerra fazia agora de seu país a nação mais rica do mundo. As autoridades festejam o novo poder econômico de Reserva 17, planejando acabar com o analfabetismo, a malária, a fome, a gripe e a desonestidade - mas também com a luta de classes, o clima tropical, o Cinema Novo e a literatura de cordel.
A essa altura, já se sabe que Reserva 17 é uma alegoria do Brasil, enquanto a “Potência Anterior” equivale aos EUA, e a “Potência Posterior” à URSS. Outras denominações, tais como “País Neutro” e “União dos Bancos Neutros”, também contribuem para uma atmosfera “cartesiana” e “positivista” de FC distópica. Os traços kafkianos de O Homem que Comprou o Mundo já se evidenciam nos nomes dos países e no tratamento de José Guerra por parte das autoridades. Os personagens intelectuais do filme, excêntricos com jargão peculiar e falas rebuscadas, beirando o completo nonsense, acenam com uma crítica à academia ou a uma suposta alta cultura.
Embora tratado com polidez, José Guerra torna-se prisioneiro na cela de um forte inexpugnável desde 1820. O que hoje Jean-Claude Bernardet aponta como “doença infantil da metalinguagem” no cinema brasileiro já dava seus surtos há muito tempo. Em O Homem que Comprou o Mundo, filme contemporâneo do Cinema Novo (e espécie de resposta particular ao movimento), o personagem Jeff Cagliostro apresenta-se a Rosinha como um “cúmplice dramático”: “eu faço a ação caminhar, senhorita. Meu roteiro é infalível, quer ver?” A metalinguagem continua em passagens como a do documentário sobre José Guerra, exibido pela TV da Potência Anterior (leia-se EUA): “Joe Guerra: The Strykman”, “um filme-verdade-épico realizado e narrado por Alpha 49.” Alpha 49 é um computador, produto da Wiener Inc. e clara citação do Alpha 60 de Aplhaville (1956), de Jean-Luc Godard. Com a ajuda de um cabo do exército (Hugo Carvana), seu carcereiro, José Guerra casa-se com Rosinha e ela começa a ter delírios de grandeza como a mulher mais rica do mundo. Mas o herói passa a ser disputado pelas superpotências.
Espirituosa é a maneira como os agentes especiais da Potência Anterior, enviados a Reserva 17 para seqüestrar José Guerra, distraem os guardas da fortaleza. Tudo começa com um dos agentes estrangeiros fazendo embaixadinhas próximo aos soldados. O primeiro deles (Milton Gonçalves) começa a trocar passes com o agente da PA e logo todos os demais soldados se animam a “bater uma bolinha”. Ao som da música do Canal 100, os guardas entregam-se todos a uma típica “pelada”, numa curiosa alegoria sobre pão e circo no país do futebol.
Na cela de José Guerra, os agentes esforçam-se por seduzi-lo a viver na PA, nação plena de prazeres e delícias a oferecer. O herói acaba carregado para fora da fortaleza nos braços da agente interpretada pela transformista Rogéria. Mas os agentes da Potência Posterior também querem o “Strykman” e, numa cena que faz lembrar ainda mais a famosa chanchada de Carlos Manga, O Homem do Sputnik (1959), interceptam os rivais da PA. Uma bomba é atirada entre as duas comitivas e José Guerra acaba sob os cuidados do cabo-carcereiro, que o leva ao QG da MOSI, a Misteriosa Organização Secreta Internacional, misto de Maçonaria e Ku Kux Klan. Lá, o Strykman é recebido pelo grão-mestre da ordem, que se revela o próprio cabo-carcereiro. A MOSI, explica o grão-mestre, tem por missão salvar o mundo. Seus membros são “a favor do aperfeiçoamento infinito do espírito” e contra os governos, o materialismo moderno, a máquina e a violência. José Guerra acaba coagido a se tornar membro da MOSI, mas durante o ritual de iniciação consegue armar um rebuliço e escapar do QG. O Strykman foge para bem longe, primeiro correndo, depois pedalando, de patinete, bonde, trem, etc., e o filme termina com ele remando, ainda em fuga.
Com argumento de Zelito Viana, Luis Carlos Maciel e Eduardo Coutinho, O Homem que Comprou o Mundo pode ser considerado uma comédia distópica de FC, sendo a estréia do diretor Eduardo Coutinho e da atriz Marília Pêra em longa-metragem. Produzido por Zelito Viana, com música de Francis Hime, fotografia de Ricardo Aronovich e montagem de Roberto Pires, O Homem que Comprou o Mundo usufrui ainda de um elenco de peso: Flávio Migliaccio, Cláudio Marzo, Jardel Filho, Hugo Carvana, Rogéria, Ambrósio Fregolente, Abel Pêra, Antônia Marzullo, Dilmen Mariani, Carlos Kroeber, Juju Batista, Célio Moreira, Márcia Rodrigues, Delorges Caminha, Maria Bethânia, Edu Melo, Marília Carneiro, Emiliano Queiroz, Natália Timberg, Eugênio Kusnet, Fernando Mergulhão, Hélio Ary, Hélio Bloch, João Neves, Katsuo Kon, Mário Brasini, Milton Gonçalves, Pedro Correia de Araújo, Raul Cortez, Nildo Parente, Rubens de Falco, Roberto Maya, Amândio Silva Filho, Paulo César Pereio, Célio Moreira.
Irreverente e alegórico, O Homem que Comprou o Mundo foi o primeiro longa de ficção de Eduardo Coutinho, experiência que, todavia, não compromete a coerência da obra do cineasta.
O douto Professor Bagdá Pompéia (Abel Pêra), autor de uma monografia sobre as strikmas (mas que ninguém conhece, pois naquele país ninguém lê o que ele escreve), é convocado para explicar o valor dessa estranha moeda. Segundo o professor: “As strikmas são moedas cunhadas pelo faraó Ramsés II no Antigo Egito, no ano de 1219 a.C., pelo processo da laparotomia...” Aqui o professor é interrompido pelo primeiro-ministro de Reserva 17 (Raul Cortez), que lhe pergunta o valor das strikmas. Mas o acadêmico não quer saber de ir direto ao ponto e continua sua dissertação, contando que as strikmas teriam sido cunhadas com a imagem da misteriosa deusa Nefertite. “Alguns séculos mais tarde foram roubadas da pirâmide de Quéops por Xerxes II, passando sucessivamente às mãos de grandes estadistas como Gengis Khan, o gentil Calígula, Átila, o Doce, Pepino, o Breve, o Visconde de Marica...”, continua o professor Bagdá, indiferente aos apelos sobre o valor da moeda. “Durante a inquisição, as strikmas foram excomungadas pelo papa Urbano XXXVI e atiradas no fundo do Mar Cáspio. Aí as pistas se confundem. Há controvérsias. Teriam desaparecido? Teriam aparecido? Que sei eu?”, divaga o professor. Com muito custo, as autoridades conseguem finalmente extrair do intelectual a informação sobre o valor de uma strikma. As strikmas seriam de “ouro cru”, um metal tão raro que só seria encontrado nas próprias strikmas. Cada strikma valeria cem milhões de dólares e teria “o tamanho de um pneu de Fenemê”. Logo, cem mil strikmas valeriam cem trilhões de dólares.
Cientes da fortuna pertencente a José Guerra, as autoridades de Reserva 17 decidem superprotegê-lo, isolando-o numa fortaleza. Afinal, como cidadão, José Guerra fazia agora de seu país a nação mais rica do mundo. As autoridades festejam o novo poder econômico de Reserva 17, planejando acabar com o analfabetismo, a malária, a fome, a gripe e a desonestidade - mas também com a luta de classes, o clima tropical, o Cinema Novo e a literatura de cordel.
A essa altura, já se sabe que Reserva 17 é uma alegoria do Brasil, enquanto a “Potência Anterior” equivale aos EUA, e a “Potência Posterior” à URSS. Outras denominações, tais como “País Neutro” e “União dos Bancos Neutros”, também contribuem para uma atmosfera “cartesiana” e “positivista” de FC distópica. Os traços kafkianos de O Homem que Comprou o Mundo já se evidenciam nos nomes dos países e no tratamento de José Guerra por parte das autoridades. Os personagens intelectuais do filme, excêntricos com jargão peculiar e falas rebuscadas, beirando o completo nonsense, acenam com uma crítica à academia ou a uma suposta alta cultura.
Embora tratado com polidez, José Guerra torna-se prisioneiro na cela de um forte inexpugnável desde 1820. O que hoje Jean-Claude Bernardet aponta como “doença infantil da metalinguagem” no cinema brasileiro já dava seus surtos há muito tempo. Em O Homem que Comprou o Mundo, filme contemporâneo do Cinema Novo (e espécie de resposta particular ao movimento), o personagem Jeff Cagliostro apresenta-se a Rosinha como um “cúmplice dramático”: “eu faço a ação caminhar, senhorita. Meu roteiro é infalível, quer ver?” A metalinguagem continua em passagens como a do documentário sobre José Guerra, exibido pela TV da Potência Anterior (leia-se EUA): “Joe Guerra: The Strykman”, “um filme-verdade-épico realizado e narrado por Alpha 49.” Alpha 49 é um computador, produto da Wiener Inc. e clara citação do Alpha 60 de Aplhaville (1956), de Jean-Luc Godard. Com a ajuda de um cabo do exército (Hugo Carvana), seu carcereiro, José Guerra casa-se com Rosinha e ela começa a ter delírios de grandeza como a mulher mais rica do mundo. Mas o herói passa a ser disputado pelas superpotências.
Espirituosa é a maneira como os agentes especiais da Potência Anterior, enviados a Reserva 17 para seqüestrar José Guerra, distraem os guardas da fortaleza. Tudo começa com um dos agentes estrangeiros fazendo embaixadinhas próximo aos soldados. O primeiro deles (Milton Gonçalves) começa a trocar passes com o agente da PA e logo todos os demais soldados se animam a “bater uma bolinha”. Ao som da música do Canal 100, os guardas entregam-se todos a uma típica “pelada”, numa curiosa alegoria sobre pão e circo no país do futebol.
Na cela de José Guerra, os agentes esforçam-se por seduzi-lo a viver na PA, nação plena de prazeres e delícias a oferecer. O herói acaba carregado para fora da fortaleza nos braços da agente interpretada pela transformista Rogéria. Mas os agentes da Potência Posterior também querem o “Strykman” e, numa cena que faz lembrar ainda mais a famosa chanchada de Carlos Manga, O Homem do Sputnik (1959), interceptam os rivais da PA. Uma bomba é atirada entre as duas comitivas e José Guerra acaba sob os cuidados do cabo-carcereiro, que o leva ao QG da MOSI, a Misteriosa Organização Secreta Internacional, misto de Maçonaria e Ku Kux Klan. Lá, o Strykman é recebido pelo grão-mestre da ordem, que se revela o próprio cabo-carcereiro. A MOSI, explica o grão-mestre, tem por missão salvar o mundo. Seus membros são “a favor do aperfeiçoamento infinito do espírito” e contra os governos, o materialismo moderno, a máquina e a violência. José Guerra acaba coagido a se tornar membro da MOSI, mas durante o ritual de iniciação consegue armar um rebuliço e escapar do QG. O Strykman foge para bem longe, primeiro correndo, depois pedalando, de patinete, bonde, trem, etc., e o filme termina com ele remando, ainda em fuga.
Com argumento de Zelito Viana, Luis Carlos Maciel e Eduardo Coutinho, O Homem que Comprou o Mundo pode ser considerado uma comédia distópica de FC, sendo a estréia do diretor Eduardo Coutinho e da atriz Marília Pêra em longa-metragem. Produzido por Zelito Viana, com música de Francis Hime, fotografia de Ricardo Aronovich e montagem de Roberto Pires, O Homem que Comprou o Mundo usufrui ainda de um elenco de peso: Flávio Migliaccio, Cláudio Marzo, Jardel Filho, Hugo Carvana, Rogéria, Ambrósio Fregolente, Abel Pêra, Antônia Marzullo, Dilmen Mariani, Carlos Kroeber, Juju Batista, Célio Moreira, Márcia Rodrigues, Delorges Caminha, Maria Bethânia, Edu Melo, Marília Carneiro, Emiliano Queiroz, Natália Timberg, Eugênio Kusnet, Fernando Mergulhão, Hélio Ary, Hélio Bloch, João Neves, Katsuo Kon, Mário Brasini, Milton Gonçalves, Pedro Correia de Araújo, Raul Cortez, Nildo Parente, Rubens de Falco, Roberto Maya, Amândio Silva Filho, Paulo César Pereio, Célio Moreira.
Irreverente e alegórico, O Homem que Comprou o Mundo foi o primeiro longa de ficção de Eduardo Coutinho, experiência que, todavia, não compromete a coerência da obra do cineasta.
On the Beach
“A guerra começou quando as pessoas aceitaram o princípio idiota de que a paz poderia ser mantida com a defesa pelo uso das armas que elas não poderiam usar sem cometer suicídio.”[1] Assim o cientista Julian Osborne (Fred Astaire) responde à pergunta dos marujos no interior do Sawfish, submarino nuclear em missão de busca no hemisfério norte em On the Beach (1959), filme de Stanley Kramer. Para Osborne, o holocausto nuclear só pode ter sido resultado de uma falha mecânica ou uma precipitação em face da complexidade dos sistemas militares. A postura do personagem de Astaire, aliás, aponta também os perigos de uma confiança excessiva nas máquinas por trás de um conflito. On the Beach é uma belíssima amostra de ficção científica pacifista dos anos 1950, um alerta melancólico sobre os perigos de uma guerra nuclear e verdadeiro “documento” audiovisual de uma época - bem como de locações na Austrália e nos EUA.
On the Beach é na verdade a adaptação cinematográfica de um dos mais famosos livros de Nevil Shute, engenheiro aeronáutico e escritor britânico que, após a II Guerra Mundial, mudou-se com a família para Langwarrin, a sudeste de Melbourne, Austrália. A obra literária de Shute é marcada por um humanismo particular, por vezes relacionado à tecnologia, seu emprego e seu impacto sobre o indivíduo e a sociedade. O filme de Stanley Kramer, porém, parece não ter agradado completamente ao escritor, em função das liberdades que teriam sido tomadas com seus personagens (Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Nevil_Shute).
O escritor e editor americano Frederick Pohl já destacou o papel da ficção científica no alerta para desastres ecológicos e sociais, observando que “o movimento ambiental foi certamente ajudado por estórias de FC que descreveram um planeta espoliado”, e que o romance On the Beach, de Nevil Shute, juntamente com sua adaptação cinematográfica, podem ter tido seu papel na contenção de uma guerra nuclear, assim como 1984 pode ter contribuído para evitar que o verdadeiro ano de 1984 fosse o da terrível tirania mundial descrita por George Orwell (Cf. “The Study of Science Fiction: A Modest Proposal”, Science Fiction Studies, nº 71, v. 24, parte 1, março de 1997, disponível em http://www.depauw.edu/sfs/backissues/71/pohl71.htm).
No filme On the Beach, em 1964 que estoura uma guerra nuclear que devasta as populações do norte do planeta. Em poucos meses a radioatividade chegará à Austrália, matando os últimos sobreviventes da espécie humana. Um misto de melancolia, ansiedade e desejo de viver intensamente acomete a população. Um submarino nuclear americano, sobrevivente do conflito, aporta em Melbourne. O tenente-comandante Dwight Lionel Towers (Gregory Peck) e sua tripulação recebem guarida na cidade, reunindo-se ao comando local. Um sentimento de atração surge entre Moira Davidson (Ava Gardner) e o capitão, mas este resiste ao envolvimento, por ser casado e pai de dois filhos, ainda que sua família não tenha sobrevivido nos EUA. Na Austrália, os militares interceptam uma intrigante mensagem em código Morse, originária da região de San Diego. Decididos a investigar a origem da mensagem, procurar por sobreviventes e checar os níveis de radiação no hemisfério norte, o capitão Dwight e sua tripulação são enviados no Sawfish aos EUA, para uma missão de reconhecimento.
O submarino chega a San Francisco e os tripulantes encontram uma cidade absolutamente deserta, a qual investigam a distância, por meio dos periscópios. Imagens da Golden Gate e das ruas da cidade completamente sem vida reavivam o tabu do cinema sem movimento. Há algo mesmo de psicanalítico nessas imagens de grandes espaços urbanos desabitados. Um dos marujos abandona o submarino e parte a nado para viver seus últimos dias em sua cidade natal. Algum tempo depois, enquanto pesca como único habitante de San Francisco – com sua saúde ainda indiferente ao veneno invisível da radiatividade -, recebe a visita do Sawfish. Por meio do alto-falante do submarino, o capitão se despede de seu subordinado e, após curioso diálogo entre homem e máquina, o Sawfish prossegue em sua missão.
Finalmente o sbmarino chega à localidade de origem da mensagem em Morse, e sua tripulação tem uma ingrata e irônica surpresa. O vento agitando uma persiana, presa a uma garrafa de Coca-Cola, alimentou falsas expectativas. O capitão comunica a descoberta ao comando em Melbourne e o Sawfish retorna à Austrália. A ordem na cidade australiana já vinha sendo aproveitar a vida que resta. Nesse cenário, Julian Osborne se realiza numa corrida violenta, vencendo um Grand Prix da Austrália que mais parece um ritual de suicídio coletivo – o personagem do piloto tem a ver com a experiência do próprio Nevil Shute, registrada no romance e inspirada na sua breve carreira (1956-58) pilotando um Jaguar XK140 branco em corridas na Austrália. Até o comandante Dwight finalmente se rende à paixão por Moira. Tempos idílicos sobrevirão, mas logo aparecem os primeiros efeitos da chegada da radiação ao país. Uma a uma as pessoas começam a apresentar sintomas de contaminação por radioatividade. Planos da praça onde a população se reunia denotam as perdas de vidas, à medida em que cada vez menos pessoas comparecem às sessões públicas de solidariedade.
Dwight acaba atendendo aos apelos de sua tripulação e decide voltar aos EUA, para que todos morram em sua pátria. Despede-se de Moira, que da orla o assiste partir no Sawfish. On the Beach é um dos raros filmes que exploram com sensibilidade o drama da iminência do holocausto nuclear, abordando tema similar ao de O Sacrifício (Offret, 1986), de Andrei Tarkovsky. Planos por vezes inclinados, a câmera desnivelada, combalida, traduzem a melancolia de uma civilização no corredor da morte. O filme termina com imagens da bela Melbourne deserta, seguidas de uma mensagem explícita, endereçada diretamente ao espectador da década de 50: a praça de reuniões, agora completamente vazia, ainda ostenta a faixa cujos dizeres ganham novo significado: “Ainda há tempo... irmão.”
Segundo informações de bastidores publicadas no Internet Movie Database (http://www.imdb.com/), a marinha americana não cooperou com a produção de On the Beach e, ao invés de um submarino nuclear, foi usado nas filmagens um submarino diesel-elétrico britânico, o HMS Andrew. O filme foi rodado parcialmente em Berwick, no subúrbio de Melbourne, e algumas ruas que estavam sendo construídos naquela época acabaram ganhando nomes inspirados no filme, como Gardner Street, Shute Avenue e Kramer Drive. De acordo com Philip R. Davey, autor de When Hollywood Came to Melbourne: The Story of the Making of Stanley Kramer's On The Beach, Stanley Kramer teve muitos problemas com os milhares de banhistas curiosos que circundavam as filmagens e aplaudiam os atores. Na tentativa de se aproximar de Ava Gardner, muitos entravam em cena e obrigavam o diretor e sua equipe a repetir várias tomadas. On the Beach também foi o filme em que Fred Astaire fez seu primeiro papel dramático, fora do musical.
On the Beach é na verdade a adaptação cinematográfica de um dos mais famosos livros de Nevil Shute, engenheiro aeronáutico e escritor britânico que, após a II Guerra Mundial, mudou-se com a família para Langwarrin, a sudeste de Melbourne, Austrália. A obra literária de Shute é marcada por um humanismo particular, por vezes relacionado à tecnologia, seu emprego e seu impacto sobre o indivíduo e a sociedade. O filme de Stanley Kramer, porém, parece não ter agradado completamente ao escritor, em função das liberdades que teriam sido tomadas com seus personagens (Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Nevil_Shute).
O escritor e editor americano Frederick Pohl já destacou o papel da ficção científica no alerta para desastres ecológicos e sociais, observando que “o movimento ambiental foi certamente ajudado por estórias de FC que descreveram um planeta espoliado”, e que o romance On the Beach, de Nevil Shute, juntamente com sua adaptação cinematográfica, podem ter tido seu papel na contenção de uma guerra nuclear, assim como 1984 pode ter contribuído para evitar que o verdadeiro ano de 1984 fosse o da terrível tirania mundial descrita por George Orwell (Cf. “The Study of Science Fiction: A Modest Proposal”, Science Fiction Studies, nº 71, v. 24, parte 1, março de 1997, disponível em http://www.depauw.edu/sfs/backissues/71/pohl71.htm).
No filme On the Beach, em 1964 que estoura uma guerra nuclear que devasta as populações do norte do planeta. Em poucos meses a radioatividade chegará à Austrália, matando os últimos sobreviventes da espécie humana. Um misto de melancolia, ansiedade e desejo de viver intensamente acomete a população. Um submarino nuclear americano, sobrevivente do conflito, aporta em Melbourne. O tenente-comandante Dwight Lionel Towers (Gregory Peck) e sua tripulação recebem guarida na cidade, reunindo-se ao comando local. Um sentimento de atração surge entre Moira Davidson (Ava Gardner) e o capitão, mas este resiste ao envolvimento, por ser casado e pai de dois filhos, ainda que sua família não tenha sobrevivido nos EUA. Na Austrália, os militares interceptam uma intrigante mensagem em código Morse, originária da região de San Diego. Decididos a investigar a origem da mensagem, procurar por sobreviventes e checar os níveis de radiação no hemisfério norte, o capitão Dwight e sua tripulação são enviados no Sawfish aos EUA, para uma missão de reconhecimento.
O submarino chega a San Francisco e os tripulantes encontram uma cidade absolutamente deserta, a qual investigam a distância, por meio dos periscópios. Imagens da Golden Gate e das ruas da cidade completamente sem vida reavivam o tabu do cinema sem movimento. Há algo mesmo de psicanalítico nessas imagens de grandes espaços urbanos desabitados. Um dos marujos abandona o submarino e parte a nado para viver seus últimos dias em sua cidade natal. Algum tempo depois, enquanto pesca como único habitante de San Francisco – com sua saúde ainda indiferente ao veneno invisível da radiatividade -, recebe a visita do Sawfish. Por meio do alto-falante do submarino, o capitão se despede de seu subordinado e, após curioso diálogo entre homem e máquina, o Sawfish prossegue em sua missão.
Finalmente o sbmarino chega à localidade de origem da mensagem em Morse, e sua tripulação tem uma ingrata e irônica surpresa. O vento agitando uma persiana, presa a uma garrafa de Coca-Cola, alimentou falsas expectativas. O capitão comunica a descoberta ao comando em Melbourne e o Sawfish retorna à Austrália. A ordem na cidade australiana já vinha sendo aproveitar a vida que resta. Nesse cenário, Julian Osborne se realiza numa corrida violenta, vencendo um Grand Prix da Austrália que mais parece um ritual de suicídio coletivo – o personagem do piloto tem a ver com a experiência do próprio Nevil Shute, registrada no romance e inspirada na sua breve carreira (1956-58) pilotando um Jaguar XK140 branco em corridas na Austrália. Até o comandante Dwight finalmente se rende à paixão por Moira. Tempos idílicos sobrevirão, mas logo aparecem os primeiros efeitos da chegada da radiação ao país. Uma a uma as pessoas começam a apresentar sintomas de contaminação por radioatividade. Planos da praça onde a população se reunia denotam as perdas de vidas, à medida em que cada vez menos pessoas comparecem às sessões públicas de solidariedade.
Dwight acaba atendendo aos apelos de sua tripulação e decide voltar aos EUA, para que todos morram em sua pátria. Despede-se de Moira, que da orla o assiste partir no Sawfish. On the Beach é um dos raros filmes que exploram com sensibilidade o drama da iminência do holocausto nuclear, abordando tema similar ao de O Sacrifício (Offret, 1986), de Andrei Tarkovsky. Planos por vezes inclinados, a câmera desnivelada, combalida, traduzem a melancolia de uma civilização no corredor da morte. O filme termina com imagens da bela Melbourne deserta, seguidas de uma mensagem explícita, endereçada diretamente ao espectador da década de 50: a praça de reuniões, agora completamente vazia, ainda ostenta a faixa cujos dizeres ganham novo significado: “Ainda há tempo... irmão.”
Segundo informações de bastidores publicadas no Internet Movie Database (http://www.imdb.com/), a marinha americana não cooperou com a produção de On the Beach e, ao invés de um submarino nuclear, foi usado nas filmagens um submarino diesel-elétrico britânico, o HMS Andrew. O filme foi rodado parcialmente em Berwick, no subúrbio de Melbourne, e algumas ruas que estavam sendo construídos naquela época acabaram ganhando nomes inspirados no filme, como Gardner Street, Shute Avenue e Kramer Drive. De acordo com Philip R. Davey, autor de When Hollywood Came to Melbourne: The Story of the Making of Stanley Kramer's On The Beach, Stanley Kramer teve muitos problemas com os milhares de banhistas curiosos que circundavam as filmagens e aplaudiam os atores. Na tentativa de se aproximar de Ava Gardner, muitos entravam em cena e obrigavam o diretor e sua equipe a repetir várias tomadas. On the Beach também foi o filme em que Fred Astaire fez seu primeiro papel dramático, fora do musical.
[1] ”The war started when people accepted the idiotic principle that peace could be maintained by arranging to defend themselves with weapons they couldn't possibly use without committing suicide.”
sábado, 3 de novembro de 2007
O Cérebro de um Bilhão de Dólares
Pessoal, eu vi este filme no Telecine Classic e me interessei pelo autor, busquei informações e escrevi este artigo originalmente publicado no site da Fábrica de Quadrinhos. Acho que o assunto é muito relevante com nossas discussões.
Igor Capelatto
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O Cérebro de um Bilhão de Dólares
Por: Igor Capelatto
No final da década de 60, a tecnologia apresentada na literatura e no cinema ainda era um tanto quanto exagerada, para não dizer absurda. Parecia impossível, um sonho do futuro que talvez nunca aconteceria mas que todo mundo desejava. Eram carros voadores, armas laser, óculos de visão raio-x, seres de outros planetas, conceitos fictícios que permaneceriam por muitas outras décadas. Todavia, eram, na sua maioria, abordados como sendo algo que um dia a humanidade poderia ver. Talvez este futuro ainda aconteça.
E no meio desta ficção toda, existiu um supercomputador capaz de ler fichas datilografadas com ordens de um general e dar missões para soldados e agentes em outros cantos do país. Este supercomputador era uma fortaleza capaz também de reconhecer a voz das pessoas e assim, abrir portas e armários ou acionar códigos secretos em seus arquivos. Era algo impossível, surreal. Todavia este computador já existia em 1967, e hoje observamos máquinas menores que a palma da mão realizarem coisas infinitamente mais avançadas.
Mas para a época, era impossível de se acreditar na existência de uma máquina com esta, chamada de Cérebro. Era como acreditar que os carros realmente voavam.Só que este supercomputador era tão secreto que realmente poucas pessoas acreditariam na sua existência. Cérebro pertencia a um órgão militar soviético de altíssimo sigilo. Nem mesmo a CIA, NASA ou quaisquer órgãos de inteligência governamentais do mundo tinham algo similar. Então seria impossível um simples escritor tomar conhecimento dele. Ninguém sabe como Cérebro foi parar nos conhecimentos de Len Deighton.
Len escreveu uma aventura em torno de um detetive que durante uma missão que pouco tem a ver com seu trabalho, investiga um complô militar e descobre a existência de um supercomputador que transmite missões. E o próprio Len adaptou esta sua aventura para o formato do cinema.Nas mãos do diretor Ken Russell (‘A Casa da Rússia’ e ‘Tommy’), o Cérebro ganhou forma, cores e ação. Mas como Ken idealizou e retratou de forma fiel a tal máquina, ninguém sabe, também. O diretor nunca revelou seus segredos. Desconfia-se que as descrições do escritor Len tenham favorecido muito.
Todavia, o que encontramos em O Cérebro de um Bilhão de Dólares é maravilhoso, estrondoso. Para a época era tão fantástico que o filme de ação quase foi classificado como ficção científica.A trama se desenvolve em cima de Harry Palmer (interpretado por Michael Caine), um ex-agente do serviço britânico da corte inglesa (uma espécie de James Bond) que abandonou o serviço para se tornar um detetive particular. Em sua primeira missão, Palmer aceita fazer uma entrega de um ‘pacote’ suspeito, que nada mais é do que uma garrafa térmica, pois precisa de dinheiro para construir uma nova carreira. Mas o que mais lhe chama a atenção não é o dinheiro, e sim, a sinistra voz que ligou para ele e deu as ordens para a tal ‘missão’.
Ele resolve então, investigar.Ken Russell trabalha com uma linguagem comum, porém irregular. Estamos seguindo uma trilha e de repente, caímos em outra, viramos a esquina e nos deparamos com outra trama e assim por diante, ora acreditamos numa coisa, ora em outra e ora voltamos a acreditar na nossa primeira suspeita e depois, voltamos a desacreditar novamente. Essa sucessiva jogada de suspeitas nos deixa atentos à história, aumentando cada vez mais nossa ânsia em saber a verdade por trás desta primeira missão do detetive particular Harry Palmer.
A magia do Cérebro e como ele é apresentado, nos remete a inspirações de Kubrick. Tanto Kubrick inspirava Russell, como Russell inspirava Kubrick.
Muitos elementos encontrados em O Cérebro de um Bilhão de Dólares podem ser comparados a ‘Intriga Internacional’ de Alfred Hitchcock, de 1959. A personagem de Michael Caine tem muito da personagem de Cary Grant e em diversos momentos Françoise Dorléac (que interpreta Anya, a suposta traidora da conspiração que envolve o Cérebro) se assemelha a Eva Marie Saint (que faz Eve em Intriga Internacional).
Curiosidades: As iniciais do nome da personagem Harry Palmer representam a homenagem que o escritor e roteirista Len Deighton faz ao escritor e também roteirista H.P. Lovecraft. Michael Caine não usou dublês, e por pouco, não caiu nas águas geladas na seqüência final do filme. Também como homenagem a H.P. Lovecraft, Caine parafraseia-o dizendo que "A capacidade de enfrentar desafios é o que conta.".
FICHA TÉCNICA
O Cérebro de Um Bilhão de Dólares(Billion Dollar Brain)Inglaterra/ 1967
Gênero: AçãoDireção: Ken Russell
Roteiro: Len Deighton, John McGrath
Elenco: Michael Caine, Karl Malden, Ed Begley, Oskar Homolka, Françoise Dorléac, Donald Sutherland, Stanley Caine, Gregg Palmer
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referência: http://www.fabricadequadrinhos.com.br/indexo.php?conteudo=antimateria&id=4813
Igor Capelatto
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O Cérebro de um Bilhão de Dólares
Por: Igor Capelatto
No final da década de 60, a tecnologia apresentada na literatura e no cinema ainda era um tanto quanto exagerada, para não dizer absurda. Parecia impossível, um sonho do futuro que talvez nunca aconteceria mas que todo mundo desejava. Eram carros voadores, armas laser, óculos de visão raio-x, seres de outros planetas, conceitos fictícios que permaneceriam por muitas outras décadas. Todavia, eram, na sua maioria, abordados como sendo algo que um dia a humanidade poderia ver. Talvez este futuro ainda aconteça.
E no meio desta ficção toda, existiu um supercomputador capaz de ler fichas datilografadas com ordens de um general e dar missões para soldados e agentes em outros cantos do país. Este supercomputador era uma fortaleza capaz também de reconhecer a voz das pessoas e assim, abrir portas e armários ou acionar códigos secretos em seus arquivos. Era algo impossível, surreal. Todavia este computador já existia em 1967, e hoje observamos máquinas menores que a palma da mão realizarem coisas infinitamente mais avançadas.
Mas para a época, era impossível de se acreditar na existência de uma máquina com esta, chamada de Cérebro. Era como acreditar que os carros realmente voavam.Só que este supercomputador era tão secreto que realmente poucas pessoas acreditariam na sua existência. Cérebro pertencia a um órgão militar soviético de altíssimo sigilo. Nem mesmo a CIA, NASA ou quaisquer órgãos de inteligência governamentais do mundo tinham algo similar. Então seria impossível um simples escritor tomar conhecimento dele. Ninguém sabe como Cérebro foi parar nos conhecimentos de Len Deighton.
Len escreveu uma aventura em torno de um detetive que durante uma missão que pouco tem a ver com seu trabalho, investiga um complô militar e descobre a existência de um supercomputador que transmite missões. E o próprio Len adaptou esta sua aventura para o formato do cinema.Nas mãos do diretor Ken Russell (‘A Casa da Rússia’ e ‘Tommy’), o Cérebro ganhou forma, cores e ação. Mas como Ken idealizou e retratou de forma fiel a tal máquina, ninguém sabe, também. O diretor nunca revelou seus segredos. Desconfia-se que as descrições do escritor Len tenham favorecido muito.
Todavia, o que encontramos em O Cérebro de um Bilhão de Dólares é maravilhoso, estrondoso. Para a época era tão fantástico que o filme de ação quase foi classificado como ficção científica.A trama se desenvolve em cima de Harry Palmer (interpretado por Michael Caine), um ex-agente do serviço britânico da corte inglesa (uma espécie de James Bond) que abandonou o serviço para se tornar um detetive particular. Em sua primeira missão, Palmer aceita fazer uma entrega de um ‘pacote’ suspeito, que nada mais é do que uma garrafa térmica, pois precisa de dinheiro para construir uma nova carreira. Mas o que mais lhe chama a atenção não é o dinheiro, e sim, a sinistra voz que ligou para ele e deu as ordens para a tal ‘missão’.
Ele resolve então, investigar.Ken Russell trabalha com uma linguagem comum, porém irregular. Estamos seguindo uma trilha e de repente, caímos em outra, viramos a esquina e nos deparamos com outra trama e assim por diante, ora acreditamos numa coisa, ora em outra e ora voltamos a acreditar na nossa primeira suspeita e depois, voltamos a desacreditar novamente. Essa sucessiva jogada de suspeitas nos deixa atentos à história, aumentando cada vez mais nossa ânsia em saber a verdade por trás desta primeira missão do detetive particular Harry Palmer.
A magia do Cérebro e como ele é apresentado, nos remete a inspirações de Kubrick. Tanto Kubrick inspirava Russell, como Russell inspirava Kubrick.
Muitos elementos encontrados em O Cérebro de um Bilhão de Dólares podem ser comparados a ‘Intriga Internacional’ de Alfred Hitchcock, de 1959. A personagem de Michael Caine tem muito da personagem de Cary Grant e em diversos momentos Françoise Dorléac (que interpreta Anya, a suposta traidora da conspiração que envolve o Cérebro) se assemelha a Eva Marie Saint (que faz Eve em Intriga Internacional).
Curiosidades: As iniciais do nome da personagem Harry Palmer representam a homenagem que o escritor e roteirista Len Deighton faz ao escritor e também roteirista H.P. Lovecraft. Michael Caine não usou dublês, e por pouco, não caiu nas águas geladas na seqüência final do filme. Também como homenagem a H.P. Lovecraft, Caine parafraseia-o dizendo que "A capacidade de enfrentar desafios é o que conta.".
FICHA TÉCNICA
O Cérebro de Um Bilhão de Dólares(Billion Dollar Brain)Inglaterra/ 1967
Gênero: AçãoDireção: Ken Russell
Roteiro: Len Deighton, John McGrath
Elenco: Michael Caine, Karl Malden, Ed Begley, Oskar Homolka, Françoise Dorléac, Donald Sutherland, Stanley Caine, Gregg Palmer
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referência: http://www.fabricadequadrinhos.com.br/indexo.php?conteudo=antimateria&id=4813
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