sábado, 3 de novembro de 2007

O Cérebro de um Bilhão de Dólares

Pessoal, eu vi este filme no Telecine Classic e me interessei pelo autor, busquei informações e escrevi este artigo originalmente publicado no site da Fábrica de Quadrinhos. Acho que o assunto é muito relevante com nossas discussões.

Igor Capelatto
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O Cérebro de um Bilhão de Dólares
Por: Igor Capelatto

No final da década de 60, a tecnologia apresentada na literatura e no cinema ainda era um tanto quanto exagerada, para não dizer absurda. Parecia impossível, um sonho do futuro que talvez nunca aconteceria mas que todo mundo desejava. Eram carros voadores, armas laser, óculos de visão raio-x, seres de outros planetas, conceitos fictícios que permaneceriam por muitas outras décadas. Todavia, eram, na sua maioria, abordados como sendo algo que um dia a humanidade poderia ver. Talvez este futuro ainda aconteça.

E no meio desta ficção toda, existiu um supercomputador capaz de ler fichas datilografadas com ordens de um general e dar missões para soldados e agentes em outros cantos do país. Este supercomputador era uma fortaleza capaz também de reconhecer a voz das pessoas e assim, abrir portas e armários ou acionar códigos secretos em seus arquivos. Era algo impossível, surreal. Todavia este computador já existia em 1967, e hoje observamos máquinas menores que a palma da mão realizarem coisas infinitamente mais avançadas.

Mas para a época, era impossível de se acreditar na existência de uma máquina com esta, chamada de Cérebro. Era como acreditar que os carros realmente voavam.Só que este supercomputador era tão secreto que realmente poucas pessoas acreditariam na sua existência. Cérebro pertencia a um órgão militar soviético de altíssimo sigilo. Nem mesmo a CIA, NASA ou quaisquer órgãos de inteligência governamentais do mundo tinham algo similar. Então seria impossível um simples escritor tomar conhecimento dele. Ninguém sabe como Cérebro foi parar nos conhecimentos de Len Deighton.

Len escreveu uma aventura em torno de um detetive que durante uma missão que pouco tem a ver com seu trabalho, investiga um complô militar e descobre a existência de um supercomputador que transmite missões. E o próprio Len adaptou esta sua aventura para o formato do cinema.Nas mãos do diretor Ken Russell (‘A Casa da Rússia’ e ‘Tommy’), o Cérebro ganhou forma, cores e ação. Mas como Ken idealizou e retratou de forma fiel a tal máquina, ninguém sabe, também. O diretor nunca revelou seus segredos. Desconfia-se que as descrições do escritor Len tenham favorecido muito.

Todavia, o que encontramos em O Cérebro de um Bilhão de Dólares é maravilhoso, estrondoso. Para a época era tão fantástico que o filme de ação quase foi classificado como ficção científica.A trama se desenvolve em cima de Harry Palmer (interpretado por Michael Caine), um ex-agente do serviço britânico da corte inglesa (uma espécie de James Bond) que abandonou o serviço para se tornar um detetive particular. Em sua primeira missão, Palmer aceita fazer uma entrega de um ‘pacote’ suspeito, que nada mais é do que uma garrafa térmica, pois precisa de dinheiro para construir uma nova carreira. Mas o que mais lhe chama a atenção não é o dinheiro, e sim, a sinistra voz que ligou para ele e deu as ordens para a tal ‘missão’.

Ele resolve então, investigar.Ken Russell trabalha com uma linguagem comum, porém irregular. Estamos seguindo uma trilha e de repente, caímos em outra, viramos a esquina e nos deparamos com outra trama e assim por diante, ora acreditamos numa coisa, ora em outra e ora voltamos a acreditar na nossa primeira suspeita e depois, voltamos a desacreditar novamente. Essa sucessiva jogada de suspeitas nos deixa atentos à história, aumentando cada vez mais nossa ânsia em saber a verdade por trás desta primeira missão do detetive particular Harry Palmer.

A magia do Cérebro e como ele é apresentado, nos remete a inspirações de Kubrick. Tanto Kubrick inspirava Russell, como Russell inspirava Kubrick.

Muitos elementos encontrados em O Cérebro de um Bilhão de Dólares podem ser comparados a ‘Intriga Internacional’ de Alfred Hitchcock, de 1959. A personagem de Michael Caine tem muito da personagem de Cary Grant e em diversos momentos Françoise Dorléac (que interpreta Anya, a suposta traidora da conspiração que envolve o Cérebro) se assemelha a Eva Marie Saint (que faz Eve em Intriga Internacional).

Curiosidades: As iniciais do nome da personagem Harry Palmer representam a homenagem que o escritor e roteirista Len Deighton faz ao escritor e também roteirista H.P. Lovecraft. Michael Caine não usou dublês, e por pouco, não caiu nas águas geladas na seqüência final do filme. Também como homenagem a H.P. Lovecraft, Caine parafraseia-o dizendo que "A capacidade de enfrentar desafios é o que conta.".

FICHA TÉCNICA
O Cérebro de Um Bilhão de Dólares(Billion Dollar Brain)Inglaterra/ 1967
Gênero: AçãoDireção: Ken Russell
Roteiro: Len Deighton, John McGrath
Elenco: Michael Caine, Karl Malden, Ed Begley, Oskar Homolka, Françoise Dorléac, Donald Sutherland, Stanley Caine, Gregg Palmer
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referência: http://www.fabricadequadrinhos.com.br/indexo.php?conteudo=antimateria&id=4813

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